sábado, 22 de abril de 2017

Coelho ou Cordeiro? (Ex. 12.1-14) - Parte I

Coelho, ou cordeiro? A verdadeira Páscoa não está relacionada ao coelho - que é um dos animais menos citados na bíblia (esta, quando o cita, proíbe-se comê-lo. Denomina-o como sendo “imundo” - Lv. 11.5,6 – “arganaz/lebre” - Dt. 14.7, Sl 104.18, Pv. 30.26).
O principal texto que trata sobre a páscoa judaica é Êxodo 12.1-14 (leia-o), e nele “o cordeiro” é o principal elemento, o qual apontava para o sacrifício que Jesus Cristo fez a nosso favor (João 1.29).  Um cordeiro deveria ser morto e, assado no fogo; deveriam comê-lo às pressas, e seu sangue deveria ser colocado nos umbrais das residências. A casa que tivesse a “marca do sangue” seria poupada do juízo iminente do que viria sobre o Egito.
Há páscoa sem coelho, mas, não há verdadeira páscoa, sem o cordeiro.
No texto lido (Ex. 12.1-14) encontramos 07 elementos que demonstram a importância do cordeiro como fundamento de nossa vida espiritual.

1) A CENTRALIDADE DO CORDEIRO (Ex. 12.3,4)
3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. 4 Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro.
Observe que o indivíduo tomaria o cordeiro, e as atenções de sua casa se voltariam para ele (o cordeiro). Um cordeiro, naturalmente, era grande para uma família; assim, outra família era introduzida no contexto do cordeiro; esse movimento, a partir do cordeiro,  progressivamente, deveria acontecer em todas as famílias que compunham a sociedade judaica. O cordeiro ficaria NO CENTRO: “Famílias ao redor do cordeiro, sociedade ao redor do cordeiro”.
É muito estranho quando vemos nossa sociedade, em tempos de páscoa, voltando-se para o coelho. Páscoa é tempo de revermos se nossa responsabilidade de implantarmos um movimento contrário; é tempo de nossa casa se voltar para o cordeiro; é tempo de nos esforçarmos para trazermos outras famílias para se voltarem para o cordeiro. Em efésios 1.9,10 o apóstolo Paulo revela o mistério do beneplácito da vontade de Deus; Deus resolveu “convergir, na dispensação da plenitude dos tempos, TODAS AS COISAS, tanto as do céu, como as da terra, EM CRISTO” (Ef. 1.10).
O CORDEIRO É O CENTRO!! Sua vida tem o cordeiro como o centro, como o núcleo? O cordeiro já é centro de sua família? Sua família, nesta páscoa, convidou outra família para estar ao redor do cordeiro?
Vejamos o 2º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

2) A SUFICIÊNCIA DO CORDEIRO (Ex. 12.4,10)
4 Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro. 10 Nada deixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis.
A celebração da páscoa era espécie de churrasco (solene) para a família. No entanto, 02 verdades devem ser postas em relevo; estas, expressarão juntas, uma única verdade: A SUFICIÊNCIA DO CORDEIRO.
A) A refeição da Páscoa não deveria ser uma refeição solitária, mas, comunitária! Do mesmo modo, Cristo não pode ser apenas uma experiência solitária de nossa espiritualidade, mas deve também ser vivido de forma comunitária! Uma das evidências mais claras da influência maléfica da pós modernidade, em nossos dias, é o entendimento de muitos que “CRENTE DEVE SER CRENTE EM CASA”; vemos preocupados, o surgir de uma geração que PRIVILEGIA E “AMA” A SOLIDÃO; satisfaz-se em “assistir” o culto pela internet... e, quando no culto, nas igrejas, percebe-se cada vez mais, uma adoração individualista: um “levanta a mão” de uma lado; outro chora, outro ajoelha... Já vi lideres de Ministério de Louvor dizerem em “tons piedosos”: “fique à vontade, irmão; se quiser sentar, assente-se; se quiser ajoelhar, ajoelhe-se; se quiser bater palmas, bata...” NÃO, IRMÃOS!! A páscoa nos relembra que os benefícios do cordeiro devem ser usufruídos coletivamente. Mas, poucos sãos os crentes que hoje valorizam a coletividade, a igreja, a família, a comunidade. Nossa adoração é COMUNITÁRIA, é coletiva; somos um CORPO (1 Co. 12.12-26). Observe mais:
B) Por maior que fosse a fome de uma pessoa, ela jamais se alimentaria SOZINHA de um cordeiro; e mais, nem mesmo uma família (por mais numerosa que fosse). Assim, diante da EVIDÊNCIA de que um cordeiro era grande para o indivíduo, e também para a família (coletividade), esta família deveria convidar outra família (comunidade), e assim, sucessivamente, como disse anteriormente, toda sociedade se alimentaria do cordeiro. Comentando este texto SPURGEON disse: “Pode haver falta de pessoas que se alimentem do cordeiro, embora não haja falta de alimento para elas se nutrirem”.
O CORDEIRO É SUFICIENTE PARA SATISFAZER O INDIVÍDUO; SUFICENTE PARA A FAMÍLIA, SUFICIENTE PARA TODO POVO. O versículo 3 diz: “Falai a toda congregação de Israel” – O INDIVÍDUO, A FAMÍLIA E A NAÇÃO.  João Batista, ao ver Jesus, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). O que João estava dizendo é que o cordeiro de Deus, Jesus, é SUFICIENTE, até mesmo, para o mundo todo. Podem faltar pessoas, mas, cordeiro, não. Lembre-se da parábola: “Tudo está preparado, podem chamar gente de todo lado, que cabe...” (Lc. 14.22). João, em sua primeira carta, disse que Jesus se fez “propiciação pelos nossos pecados... e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo. 2.2). ALELUIA!! O CORDEIRO É SUFICIENTE!!
Vejamos o 3º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

3) A PERFEIÇÃO DO CORDEIRO (Ex. 12.5,6,3)
5 O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito; 6 e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. 3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro
O cordeiro não poderia ter defeito (5), tinha que ser um animal saudável (perfeito). Este cordeiro era recolhido no 10º dia (3) do mês de “abib” (entre março/abril), mas, só era imolado no 14º dia (6). Segundo os especialistas havia 04 dias de carência para perceberem alguma possível doença no animal, se este a tivesse. Isto tudo aponta para a perfeição da pessoa e da obra de Cristo a nosso favor.
Veja o que aconteceu no tempo do profeta Malaquias (1.7,8): “Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o SENHOR dos Exércitos”.
O ato de escolher um animal “sem defeito” (5) apontava para a perfeição do caráter e da obra de Cristo, o verdadeiro cordeiro de Deus. O anjo Gabriel anunciou que Maria daria a luz a um “ente santo” (Lc 1.35). O veredito Pilatos acerca de Jesus foi: “Não encontro nesse homem crime algum” (Lc 23.4 cf. 24.14-15, 22). A Carta aos Hebreus diz que Jesus foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).
O simples fato de Jesus ter morrido durante a celebração da Páscoa já seria razão suficiente para percebemos o quanto a perfeição de nosso Salvador e sua obra estão associados com esta festa (Jo 12.1,12; 13.1). A relação perfeita de nosso Senhor com essa celebração judaica tem detalhes tão precisos que surpreende até a mente mais cética. Moisés prescrevia a hora da morte do cordeiro em Deuteronômio 16.6: “sacrificarás a Páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo em que saístes do Egito”. “À tarde” era intervalo entre 15 e 18 horas; isso é reafirmado por um historiador da antiguidade chamado Flávio Josefo: “era costume na época sacrificar o animal por volta das três horas da tarde. Então, veja como o Evangelista Marcos foi preciso (Mc. 15.25,33,34,37): “Era a hora terceira (9 horas da manhã) quando o crucificaram.... 33 Chegada a hora sexta (Meio dia), houve trevas sobre toda a terra até a hora nona. (15 horas)... 34 À hora nona (15 horas), clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? 37...Jesus, dando um grande brado, expirou.
A porção, relatada por Marcos, indica que, PERFEITAMENTE, À HORA QUE O POVO JUDEU DEGOLAVA O CORDEIRO (a partir das 15 horas), JESUS EXPIRAVA, MORRIA NA CRUZ. O Novo testamento trata a obra de Cristo, como cordeiro, tendo como base a perfeição dela. Veja, somente, 1ª Pedro 1.18-20:sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito (“Sem Defeito – o mesmo termo de Êxodo 12.5) e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós”. Um sacrifício perfeito; a “obra (sangue) perfeita” procedente de um “cordeiro perfeito”.
Vejamos o 4º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

4) A PROTEÇÃO DO CORDEIRO (Ex. 12.7,12,13)
7 Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem;
Foi ordenado ao povo fazer cumprir um ritual um tanto inusitado: passar o sangue do cordeiro nos umbrais das portas. Alguém disse certa vez que "mais vale um grama de obediência que uma tonelada de oração". A vida ou a morte, de cada família, estava definida pela presença ou não daquele sangue, o qual, evocaria, 2 reações distintas.
A)     A AUSÊNCIA DO SANGUE DO CORDEIRO EVOCARIA O JUÍZO - 12 Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o SENHOR.
B)        A PRESENÇA DO SANGUE DO CORDEIRO EVOCARIA PROTEÇÃO, OU, A PRESERVAÇÃO - 13 O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.
Um detalhe precisa ser bem definido. A proteção da morte acontecia não por que (necessariamente) este colocou o sangue, mas por que, antes mesmo disso, alguém morreu (o cordeiro) no lugar do morador da casa. Portanto, o sacrifício era vicário; era substitutivo. Aprenda: somos o que somos, não por causa de nossas obras ou méritos, mas única e exclusivamente por causa daquilo que Jesus fez em nosso lugar.
A obediência em “passar o sangue” indicava que um cordeiro havia sido morto, e foi uma representação de uma realidade muito mais profunda. Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, diz que Jesus é o único que nos “livra da ira vindoura” (1Ts 1.10); aqueles que são “cobertos pelo seu sangue” têm seus pecados perdoados (1Jo 1.7; Ap 1.5) e serão apontados como justos no dia do juízo de Deus (Rm 5.9). Apocalipse anuncia que “os que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro venceram, são bem-aventurados e receberam o direito de comer da árvore da vida e entrar na Jerusalém celestial” (Ap 12.11; 22.14).

CONCLUSÃO
Encerro esta primeira parte fazendo a pergunta inicial: Coelho ou cordeiro? Você se convenceu da centralidade, suficiência, perfeição, e proteção do cordeiro? Nossa vida espiritual só faz sentido porque o cordeiro está intimamente envolvido nela.
Falando sobre a páscoa Hernandes Dias Lopes expressou-se muito bem: “O comercio guloso trocou os símbolos da páscoa. Trocou o cordeiro pelo coelho; o sangue pelo chocolate. Amenizou o seu significado, esvaziou o seu conteúdo e adocicou a sua mensagem. A páscoa secularizada é multicolorida, mas vazia de conteúdo. Cheia de glamour, mas desprovida de esperança. Agradável ao paladar, mas, sem nenhuma provisão para a alma. É hora de devolver a páscoa ao verdadeiro dono, Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

Em breve publicarei a segunda parte desta mensagem. Deus o abençoe!!

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