quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Queda de Satanás e o Plano da Redenção. Como Entender Melhor a Questão da Predestinação?

PERGUNTA:
Gostaria de saber sobre a Queda de Satanás e o Plano da Redenção. Como entender melhor a questão da Predestinação?

RESPOSTA:
Olá. Sua pergunta é muito profunda. Na verdade creio que a predestinação é o tema teológico mais discutido nos últimos anos e tem criado tanto um amor como um ódio extremado da parte de muita gente boa.
Ao tratarmos de temas como Predestinação, Trindade, Redenção, Soteriologia, Queda de Satanás, e outros mais, temos que nos aproximar com muito temor, humildade e tremor.
Estamos falando de coisas maiores que nós e precisamos ter uma compreensão daquilo que os teólogos chamam de Paradoxo: 2 verdades aparentemente contraditórias mas que não são opostas – exemplo Jesus é 100% homem e 100% Deus).
Muitos não crêem na predestinação porque acham que esta doutrina contradiz o “direito de escolha”, induz a indolência espiritual, etc... Isso tudo é uma má compreensão do tema.
Vou citar para você os textos do maior tratado teológico de todos os tempos, a Confissão de Fé de Westminster, que tratam de sua pergunta.

A) Como tratar com esse tema:
Confissão de Fé de Westminster Capítulo III – Seção VIII: A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência da sua vocação eficaz, certificar-se da sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração de Deus, bem como de humildade diligência e abundante consolação. Ref. Rom. 9:20 e 11:23; Deut. 29:29; II Pedro 1:10; Ef. 1:6; Luc. 10:20; Rom. 5:33, e 11:5-6, 10.
B) Veja o Paradoxo
O fato de Deus ter predestinado tudo quando acontece não faz dele autor do pecado nem conivente com o mal, pois, ele não “violenta a consciência. Nunca Deus disse a qualquer criatura (incluindo Satanás): PEQUE!
Confissão de Fé de Westminster Capítulo  III- Seção I: Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas. Ref. Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
C) A Definição de Predestinação
Confissão de Fé de Westminster Capítulo  III – Seção III: Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna. Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.
Confissão de Fé de Westminster Capítulo  III – Seção IV: Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído. Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19.
Confissão de Fé de Westminster Capítulo Cap. III – Seção V. Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa. Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9; I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.
D) Observe que o Deus que predestinou o fim (Salvação) também predestinou o meio (Cristo).
É importante observar isso. Cristo está “aberto” a todos.
Confissão de Fé de Westminster Capítulo  III – Seção VI. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo. Ref. I Pedro 1:2; Ef. 1:4 e 2: 10; II Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5; João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I João 2:19.

Creio que posso encerrar dizendo algumas coisas.
1) O fato de Deus predestinar alguns não o faz injusto, uma vez que todos mereciam condenação, pois quando Adão caiu toda raça humana caiu.
2) Todas as outras formas de entender a redenção a parte da predestinação são contrárias à bíblia uma vez que fazem do homem autor de sua própria salvação, ou seja, salvação por obras, mérito. Nesse “pacote” estão o Arminianismo, Pelagianismo, e Semi-pelagianismo (estude estes termos à parte).
3) O fato de Satanás ter caído ou viver tentando “atrapalhar” os planos de Deus não desmerecem em nada a Sabedoria e o Poder Divino. Deus nunca o forçou a nada; no entanto é óbvio que ao criá-lo (Satanás) como ao homem, Deus já sabia que ambos cairiam. E da mesma forma como Deus endurecia o coração de Faraó para no final cumprir o seu propósito, assim Ele faz o mesmo em relação a Satanás e sua obras malignas.
4) A doutrina da Predestinação traduz-se provavelmente como uma das mais belas de todas as doutrinas, pois, demonstra um Deus que, sem se fazer autor do mal, redimiu em Cristo toda uma massa de gente falida, pecadores, dignos de sua cólera. Isso sim é graça. Observe de novo que Deus nunca feriu a consciência e o direito de escolha, uma vez que tanto o Lúcifer, quanto o homem preferiram o caminho do mal.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

POSSO IR AO ESTÁDIO NO DOMINGO ASSISTIR VASCO X BOTAFOGO DEPOIS DE TER IDO À ESCOLA DOMINICAL DE MANHÃ?

PERGUNTA: Pastor Valdemir, a dúvida desta semana é sobre a questão da idolatria. Contudo, referente ao seguinte aspecto: Meu vizinho deixou de ir ao culto vespertino para assistir o clássico entre Vasco e Botafogo. No entanto ele disse que já havia participado do culto matutino e que não haveria problema algum. Sendo assim, fiquei a pensar, qual o propósito de algumas igrejas terem dois cultos? Pois nos são ensinado, que o DOMINGO deve ser exclusivamente para Deus. Como então os cristãos presbiterianos devem proceder numa situação dessas? Seria algum tipo de idolatria, por exemplo, não ir a EBD para ir à praia, mas participar do culto vespertino? Abraços Fraternos! Oliveira - Cachoeiro de Itapemirim-ES

Como vocês sabem Internautas enviam-me perguntas, dúvidas e questionamentos sinceros e dentro de minhas possibilidades vou respondendo a alguns. Meu email pessoal a quem quiser enviar é: pr.valdemir@yahoo.com.br

RESPOSTA: Olá Oliveira segue sua segunda resposta:
Primeiro citarei o texto da Confissão de Fé de Westminster (Cap. XXI; Seção VII), que, nós presbiterianos cremos ser a fiel exposição do sistema doutrinário conforme registrado na bíblia :
Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão (Exo. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor. 16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18).
Agora cito as orientações do “como” nos relacionarmos com o Dia do Senhor (Conf. Fé Westminster Cap. XXI, Seção VIII) :
Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia ( Exo. 16:23-26,29:30, e 31:15-16; Isa.58:13).
Observe que devemos nos preparar para o Dia do Senhor (Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários). E mais, a “preocupação” (foco) com o dia do Senhor deve ser para exercícios públicos e particulares de culto e deveres de necessidade e misericórdia.
Portanto: Não creio que seja idolatria não ir à Escola Dominical e ir à praia ou ao campo de futebol depois de ter ido à EBD pela manhã. Para dizer a verdade a EBD institucionalmente falando é muito nova na vida da igreja e posterior à Confissão de Westminster.
No entanto, creio que há um erro de perspectiva da parte dessa pessoa, quanto à correta observância do Dia do Senhor. Guardar ou não o dia do Senhor não se limita simplesmente a ir à igreja uma ou duas vezes no domingo. Nem mesmo Deus ordenou que tivéssemos um ou dois cultos ou EBD`S aos domingos. Esta postura de simplesmente dizer “cumpri meus votos, fui à igreja, dei meu dízimo, cumpri minhas parte, fiz minhas obrigações” etc... é um ERRO. Veja o exemplo da mulher prostituta em Provérbios 7:10-14 (observe especialmente o versículo 14 em negrito e itálico).
Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de coração. É apaixonada e inquieta, cujos pés não param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os cantos. Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara impudente lhe diz: Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer; paguei hoje os meus votos. Por isso, saí ao teu encontro, a buscar-te, e te achei. Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do Egito, de várias cores; já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo. Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, até pela manhã; gozemos amores. Porque o meu marido não está em casa, saiu de viagem para longe.
Observe que essa mulher entende que está “liberada” para pecar (seduzir o jovem e levá-lo para uma noite de “amor” porque já “pagou”; já cumpriu seus compromissos religiosos).
A real questão tem a ver com o coração que se prostra e volta de maneira plena, única para Deus neste dia. Daí estas questões ligadas a lazer, esporte (bater uma bola, ir ao campo de futebol etc) ou fazer negócios devem ser evitadas no Dia do senhor. Por isso a Confissão de Fé mostrar sabiamente que somente “nos deveres de necessidade”(tais como um médico por exemplo), e “misericórdia”(transportar um enfermo por exemplo a um hospital) seriam “excessões” à regra à correta observância do Dia do Senhor; provavelmente por que glorificamos a Deus, de maneira prática, por meio dessas coisas.
É óbvio que há uma grande lacuna a ser preenchida por nós pastores nessa sua pergunta. A verdade é que nós não temos ensinado a nosso povo acerca do Dia do Senhor, tanto em relação à mudança do Dia (sábado para domingo – e por isso, pasme-se, muitos presbiterianos têm se tornado Adventistas do 7º Dia), e quanto à correta observância desse dia.
Nós pastores precisamos reavaliar muitas coisas em nosso foco de atenção para com a Escritura. Finalizo citando Isaías onde Deus demonstra grande zelo para com o seu dia (sábado no AT que tornou-se o domingo no NT): Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse (Isaías 58:13,14).

terça-feira, 5 de abril de 2011

SOBRE PASTORES DIVORCIADOS

PERGUNTA: A dúvida é sobre o Divórcio. Gostaria de saber por que os pastores divorciados não podem continuar ou até mesmo fazer parte no Ministério Pastoral na I.P.B (Igreja Presbiteriana do Brasil). Há alguma base bíblica ou é apenas uma norma do estatuto presbiteriano?

Internautas enviam-me perguntas, dúvidas e questionamentos sinceros e dentro de minhas possibilidades vou respondendo a alguns. Meu email pessoal a quem quiser enviar é: pr.valdemir@yahoo.com.br

RESPOSTA:
Olá Oliveira. Suas perguntas são, como sempre, pertinentes. Na verdade há pastores desenvolvendo os seus ministérios “normalmente” na IPB que são divorciados solteiros e alguns que já foram divorciados e casaram-se, novamente, inclusive mais de uma vez.
É óbvio que o ideal é que isso não fosse assim. O ideal de Deus é que o homem casado não se separe. Na IPB o pensamento é que a permissão bíblica para o divórcio é o adultério e a deserção (abandono) do lar; isso ainda, se não houver a possibilidade do perdão e recomeço (Mt. 19.3-12, 1Co.7.1-24). No entanto, a questão é muito complexa. Lidar e julgar a situação entre um casal não é tão simples. Há situações tão difíceis no aconselhamento pastoral em que é preciso até intervir, mesmo quando não houve adultério, por diversas questões, por exemplo, risco de morte. Já enfrentei situações assim. Foi por isso que o Senhor Jesus falou acerca da dureza do coração humano (Mt. 19:8).
Não estou com isso dizendo que tratamos o casamento de forma deleixada, não é isso. A questão é entendemos que o casamento não é um “sacramento”, como no catolicismo, mas uma “graça comum” (estude este assunto em separado). Por isso tratamos da questão casamento/divórcio, seja em relação ao pastor, a presbíteros e diáconos, ou a “membros comuns” observando, analisando, aconselhando, e julgando, caso a caso. Há caso em que ambos (marido e esposa) são disciplinados, há caso em que somente um dos lados é disciplinado.
Tratando especialmente de líderes (oficiais) e mais especificamente de pastores, a questão é mais séria, pois, estes são o modelo para rebanho. Paulo disse que é melhor casar do que viver abrasado (1Co. 7:9), no entanto, para um pastor casar, este, deve orar bastante e analisar vagarosamente e amplamente o passo que estará dando, pois, boa parte do ministério pastoral dependerá de uma vida conjugal exemplar. Há casos de pastores que se casaram com mulheres não crentes, com mulheres inexperientes na fé e na idade, mulheres muito mais novas, e vai por aí...
O rebanho se espelha no seu líder. Como posso aconselhar, instruir etc, sendo que minha vida conjugal é um desastre? As pessoas me seguirão e me respeitarão observando mais por aquilo que demonstro (exemplo) e não simplesmente por aquilo que digo. Paulo disse em 1ª Tm 5:8 que “aquele que não cuida dos seus, especialmente os da sua própria casa tem negado a fé e é pior que o incrédulo”.
Concluindo, a IPB possui pastores divorciados em seu rol, e estes são homens de Deus, sim, e são honrados e respeitados pela igreja, institucionalmente falando. No entanto, na prática, estes irmãos em sua maioria possuem um ministério (por diversos fatores) muito restringido; essa é a realidade. Alguns conselhos (veladamente) não aceitam que pastores divorciados pastoreiem suas comunidades. Geralmente orienta-se a estes irmãos a desenvolverem um ministério, quando conseguem, bem distantes do local onde aconteceu toda situação que gerou o divórcio.