terça-feira, 23 de julho de 2013

MENOS, BATISTA, MENOS...

Estava em Monte Dourado, no vale do Rio Jari, aonde vou mensalmente para lecionar para um grupo de servos de Jesus e da sua igreja. Um privilégio dado por Deus, o de trabalhar na formação de obreiros. Vêm irmãos de Vitória do Jari, Laranjal do Jari e Munguba (do Amapá), Almeirim e Monte Dourado (do Pará). Estudo sério, um bom café, e sempre um bom peixe, no sábado.
Normalmente hospedo-me na casa do Sales, irmão da igreja local. Desta última vez, um galo tresloucado começou a cantar de madrugada, e às 10 da manhã ainda cantava. Que fôlego (e que falta do que fazer!) do penoso galináceo! Sales disse que foi presente de uma irmã da igreja para seu filho. E ela deu-lhe logo dois galos! Citei-lhe um “provérbio” maldoso: “Quer se vingar de um inimigo? Dê uma corneta para o filho dele!”. A irmã deve ter querido se vingar dele… Dois galos! E, no ensejo, contei a história do galo que se julgava o mais poderoso da fazenda onde morava. Mais poderoso que o boi, o cavalo e até mesmo que o dono da fazenda. É que quando ele cantava, o sol nascia. Só ele conseguia fazer isso. Nem o fazendeiro! O sol nascia porque ele cantava.
Uma noite, o galo ficou na farra até altas horas, perdeu o tempo, e só acordou às 9. O sol já ia alto. Consternado, ele descobriu que, cantasse ou não, o sol nasceria. Ele não era tão importante assim. Até entrou em crise existencial. Não era o que pensava…
Há gente como este galo. Julga-se muito importante. Sem elas o mundo não iria bem, ou a igreja afundaria. “Quero ver a igreja se virar sem mim!”, diz o crente vaidoso. Ou “Se não fosse por mim, o reino de Deus não avançaria!”, pensa o obreiro com complexo deste galo da história. Há famílias donas de igrejas (e como há!) que pensam que sem elas a igreja morreria. São pessoas que têm um conceito mais alto de si do que deveriam ter. Talvez a igreja melhorasse muito se elas saíssem! Vez por outra, no Facebook (onde há coisas boas, mas medram bobagens alimentadas pela falta de senso analítico, ausência cada vez mais aguda no cenário evangélico) aparece um quadro com esta mensagem: “Você é insubstituível!”. Aliás, título de um livro de autoajuda, da autoria de um escritor famoso. Todas as vezes que vejo tal quadro me recordo de uma frase: “Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis!”. O mundo funcionava sem nós. E depois que nos formos, o mundo ainda funcionará.
E também o reino de Deus. Para cada Moisés Deus tem um Josué. Para cada Elias Deus tem um Eliseu. Para um Judas que se vai, há um Matias que vem, e que até melhora o ambiente. Deus é Soberano. Usa quem quer, quando quer, e não deve nada a ninguém por isso. Usou a Assíria para disciplinar Israel, o Norte, e exclamou: “Ai da Assíria, a vara da minha ira!” (Is 10.5). Usou a Assíria, mas esta não ficou com crédito junto a ele. Ele a julgou. Nações e pessoas são instrumentos, apenas. O sujeito das ações é ele. O autor da história é ele. A glória é dele. O reino é dele, não nosso. A igreja é dele, não nossa. Só ele é insubstituível. Aliás, ele é O INSUBSTITUÍVEL.
O serviço cristão não é, como alguns dimensionam, algo a ser feito para ajudar a Deus nem para salvar a igreja de uma hecatombe espiritual. Deus não precisa de salvadores e a igreja é muito maior e muito mais poderosa do que pensamos. Ela sobreviveu a pessoas melhores e a pessoas piores que nós. Ela sobreviveu à perda de um Paulo e ao surgimento de um Nero. Ela é de Jesus e exatamente por isso nunca será vencida.
O serviço cristão é útil, sim, ao reino e à igreja. Isto é inegável. Mas se falharmos, o reino e igreja continuam. Deus não fica desorientado porque perdeu um auxiliar de ponta. Ele não é alguém patético, mas é o Senhor. “Socorro e livramento virão de outra parte” (Ester 4.14). Ele terá outros para o serviço. Mas o serviço é, também, para termos senso de utilidade. Para mostrarmos nossa gratidão a Jesus (“O amor de Cristo nos constrange”- 2Co 5.14). Para nos realizarmos como filhos de Deus. Quem serve com alegria é sempre abençoado. Não vive buscando bênçãos. Sua bênção maior é servir. Quer glória maior que esta?
Sou pastor de uma igreja que foi muito machucada. E como é uma igreja amorosa e sensível, presumo que sua dor seja mais aguda do que se fosse uma igreja insensível em relacionamentos. Sei que sou útil a ela. Sou obreiro numa região carente. Mas não sou um herói. Nem um benemérito espiritual. Minha igreja me é mais útil que eu para ela. Meu campo me é mais útil que eu para ele. Dão-me, igreja e campo, oportunidade de me realizar como crente em Jesus (o pastor não deixa de ser um crente em Jesus!). Posso fazer alguma coisa para meu Salvador. O serviço cristão não é para nossa glória. É para nós glorificarmos a Deus. É uma oportunidade para mostrarmos nosso amor a Jesus. Bem aventurado quem tem um espaço para ser servo. A grande bênção da vida cristã é ser útil. Porque o serviço cristão enriquece o servo. Dá uma dimensão enorme à sua vida. Servir beneficia mais a quem serve que a Deus. Ele anda bem sem nós. Nós não andamos bem sem ele. Nossa vida tem mais sentido quando somos instrumentos dele.
O galo que ficou na gandaia e perdeu a hora me lembra de um personagem de humor (humor fraco, mas humor) da televisão. Um personagem chamado Batista elogiava muito o chefe e este apenas dizia: “Menos Batista, menos…”. Pois, se alguém pensa de si mesmo que é o galo que faz o sol nascer, fica esta palavra: “Menos Batista, menos…”. Seja servo.

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

quinta-feira, 18 de julho de 2013

OUVIR A VOZ DE DEUS

"A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade." Salmos 29:4. 
O mundo moderno, com seu legado positivista, nos ensina a ler com os olhos e refletir com a mente. No entanto, precisamos redescobrir o lugar do ouvir a voz de Deus e como acolhê-la no nosso coração.
Em minha jornada pessoal, o início de cada ano sempre foi caracterizado por muita reflexão e tomada de decisões em relação aos próximos passos de minha vida. Essa época, e também a proximidade da data em que comemoro mais um aniversário, me proporcionam o cenário adequado para momento mais íntimo de avaliação interior e consequente percepção da agenda de Deus para minha vida e história.
Envolvido por este exercício, fui levado a me questionar:  
O que mais necessito neste momento de minha existência?
Qual é a minha maior necessidade para a continuidade de minha jornada? 
O que devo buscar como essencial nos próximos dias, semanas e meses de minha vida? 
A conclusão a que cheguei foi de que eu preciso ouvir mais a voz de Deus em meu coração. Ela é essencial para a ordem de minha vida e para o sentido de minha história.
A história da salvação, conforme registrada nas páginas da Bíblia, tem seu início com o relato da criação do universo. Em Gênesis 1:2, encontramos a afirmação de que “a Terra era sem forma e vazia”. A palavra normalmente utilizada pelos estudiosos para definir esse estado “sem forma” e “vazio” da terra é caos, ou seja, ausência de ordem ou completa confusão. Este é o universo antes que a voz de Deus ecoe nele e através dele. Mas, imediatamente após tal descrição, encontramos uma frase que dá início a uma grande transformação no cenário. Por onze vezes, ao longo daquele capítulo, o autor de Gênesis faz uso da seguinte frase: “Disse Deus”. A partir do momento em que a voz de Deus ecoa no caos, tudo, gradativamente, passa a ganhar forma e ordem. Na medida em que a voz de Deus é ouvida, o caos se dissipa e a vida, em sua plenitude, se instala.
É surpreendente observar como o fantástico cenário que nos é oferecido no relato da Criação se transforma numa espécie de padrão ao longo da história bíblica, assim como em nossas vidas. Onde a voz de Deus não é mais percebida ou ouvida, gradativamente, o caos se instala e a vida se esvai. Contudo, quando a voz de Deus volta a ecoar num coração ou volta a ser ouvida numa situação, mais uma vez, o caos se dissipa e a vida se reorganiza.
Assim também acontece em nossa própria vida. Existem momentos em que passamos a nos dedicar tão exaustivamente a atender as demandas dos que nos cercam, a corresponder aos desafios que nos são lançados e a cumprir os papéis que nos são impostos, que nossa vida pode se transformar em um verdadeiro caos. Em momentos assim, não faltam compromissos e movimentos em nossas agendas; tudo, no entanto, se torna “sem forma” e “vazio”.
Quando nossas prioridades não estão alinhadas com nossa vocação e nossos esforços estão desprovidos de propósito, é aí que devemos nos render à necessidade de “ouvir mais a voz de Deus”. Somente esta voz, quando ecoa em nossos corações, tem o poder de dissipar o caos que se instala em nossas vidas. Só ela pode nos levar a reencontrar a ordem interior, lembrando-nos de quem realmente somos e para quê fomos efetivamente chamados.
Minha constatação sobre a necessidade de ouvir mais a voz de Deus me conduz a outras perguntas: 
Como podemos ouvi-la de forma mais consistente no nosso coração?
Como podemos discernir de forma mais clara a voz de Deus em meio a tantas outras vozes, inclusive as de nossa alma, que tentam nos impor suas agendas?
Em primeiro lugar, para ouvirmos a voz de Deus com mais consistência e discernimento, precisamos demonstrar que tal anseio é realmente prioritário em nossa vida. Isso implica em nos assentarmos mais vezes na presença do Senhor em solitude, silêncio e total atenção, na expectativa de ouvi-Lo falar. Afinal, como poderemos ouvir a voz do Senhor se não encontrarmos tempo para nos assentarmos com Ele e Lhe dedicarmos total atenção?
Em segundo lugar, para ouvirmos a voz de Deus com mais consistência e discernimento, precisamos redescobrir a capacidade de ler as Escrituras “com os ouvidos” e acolher a Palavra “com o coração”. O mundo moderno, com seu legado positivista, nos ensina a ler com os olhos e refletir com a mente. Creio na importância dos olhos atentos e da reflexão profunda, no entanto, precisamos redescobrir o lugar do ouvir a voz de Deus, e como acolher Seu falar em nossos corações.
Em terceiro lugar, para ouvirmos a voz de Deus com mais consistência e discernimento, precisamos nos comprometer no desenvolvimento de relacionamentos com pessoas que tenham o mesmo anseio e disposição. Pessoas envolvidas com o mesmo propósito podem nos ajudar, com suas próprias experiências nessa caminhada. No entanto, pessoas desinteressadas pela voz de Deus apenas contribuem com a sobrecarga de demandas, desafios e papéis que sempre podem nos levar para bem longe de nossa identidade e vocação.

Por: Rev. Ricardo Agreste - Ampliado de Cristianismo Hoje.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O OFÍCIO DE PRESBÍTERO E DIÁCONO

A igreja Presbiteriana reconhece 2 ofícios na igreja: Presbíteros e diáconos. Chama-se Presbiteriana por ser liderada por um colegiado de homens denominados presbíteros. O termo presbítero é uma transliteração do grego (presbyteros) e significa “ancião”, reportando-se à experiência e sabedoria dessa pessoa. Em Israel os anciãos eram tidos como as pessoas mais sábias e experientes, dignas de serem ouvidas e obedecidas (Pv 16:31; 20:29). Contudo o Novo Testamento faz uso também da expressão “bispo” (episkopos)que significa “supervisor” como um termo comum que se aplica também à pessoa presbítero também. Paulo se refere aos presbíteros em Éfeso como “bispos” em seu sermão de despedida de Atos 20.17-35. Da mesma forma, “bispo” em Tito 1.7 é um sinônimo para o termo “presbítero” usado no versículo 5. A maioria dos estudiosos reconhece isso, como J. B. Lightfoot já observou no século 19: “É um fato agora em geral reconhecido por teólogos de todas as matizes de opinião, que na linguagem do Novo Testamento o mesmo ofício na Igreja é chamado indiferentemente de ‘bispo [supervisor]’ e ‘ancião’ ou ‘presbítero’.
De acordo com o Novo Testamento, os presbíteros são responsáveis pela liderança e supervisão de uma igreja local. A função e o papel de um presbítero é bem resumida por Alexander Strauch em seu livro Biblical Eldership: “Os presbíteros: 1) Llideram a igreja [1Tm 5.17; Tito 1.7; 1 Pedro 5.1-2], 2) Ensinam e pregam a Palavra [1 Timóteo 3.2; 2 Timóteo 4.2; Tito 1.9], 3) Protegem a igreja de falsos mestres [Atos 20.17, 28-31], 4) Exortam e admoestam os santos na sã doutrina [1 Timóteo 4.13; 2 Timóteo 3.13-17; Tito 1.9], 5) Visitam e oram pelos doentes [Tiago 5.14; Atos 20.35], e 6) Julgam questões doutrinárias [Atos 15.16]. Em terminologia bíblica, presbíteros pastoreiam, supervisionam, lideram e cuidam da igreja”.
Veja abaixo as qualificações e deveres do presbítero e do diácono de acordo com alguns artigos da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil:
Artigo 25 – A Igreja exerce as suas funções na esfera da doutrina, governo e beneficência, mediante oficiais que se classificam em: a) ministros do Evangelho ou presbíteros docentes; b) presbíteros regentes; c) diáconos.
§ 1º - Estes ofícios são permanentes, mas o seu exercício é temporário.
§ 2º - Para o oficialato só poderão ser votados homens maiores de 18 anos e civilmente capazes.
Artigo 50 - O Presbítero regente é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado pelo Conselho, para, juntamente com o pastor, exercer o governo e a disciplina e zelar pelos interesses da Igreja a que pertencer, bem como pelos de toda a comunidade, quando para isso eleito ou designado.
Artigo 51 - Compete ao Presbítero: a) levar ao conhecimento do Conselho as faltas que não puder corrigir por meio de admoestações particulares; b) auxiliar o pastor no trabalho de visitas; c) instruir os neófitos, consolar os aflitos e cuidar da infância e da juventude; d) orar com os crentes e por eles;  e) informar o pastor dos casos de doenças e aflições; f) distribuir os elementos da Santa Ceia; g) tomar parte na ordenação de ministros e oficiais; h) representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no Supremo Concílio.
Artigo 52 - O presbítero tem nos Concílios da Igreja autoridade igual a dos ministros.
Artigo 53 - O diácono é o oficial eleito pela Igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente: a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos; b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos; c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino; d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus e suas dependências.
Artigo 54 - O exercício do presbiterato e do diaconato limitar- se-á ao período de cinco anos, que poderá ser renovado.
Artigo - O presbítero e o diácono devem ser assíduos e pontuais no cumprimento de seus deveres, irrepreensíveis na moral, sãos na fé, prudentes no agir, discretos no falar e exemplos de santidade na vida.
Artigo 56 - As funções de presbítero ou de diácono cessam quando: a) terminar o mandato, não sendo reeleito; b) mudar-se para lugar que o impossibilite de exercer o cargo; c) for deposto; d) ausentar-se sem justo motivo, durante seis meses, das reuniões do Conselho, se for presbítero e da junta diaconal, se for diácono; e) for exonerado administrativamente ou a pedido, ouvida a Igreja.
Artigo 113 - Eleito alguém que aceite o cargo, e, não havendo objeção do Conselho, designará este o lugar, dia e hora da ordenação e instalação, que serão realizadas perante a igreja.

Artigo 114 - Só poderá ser ordenado e instalado quem depois de instruído, aceitar a doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, devendo a Igreja prometer tributar-lhe honra e obediência no Senhor, segundo a Palavra de Deus e esta Constituição.