sábado, 22 de abril de 2017

Coelho ou Cordeiro? (Ex. 12.1-14) - Parte I

Coelho, ou cordeiro? A verdadeira Páscoa não está relacionada ao coelho - que é um dos animais menos citados na bíblia (esta, quando o cita, proíbe-se comê-lo. Denomina-o como sendo “imundo” - Lv. 11.5,6 – “arganaz/lebre” - Dt. 14.7, Sl 104.18, Pv. 30.26).
O principal texto que trata sobre a páscoa judaica é Êxodo 12.1-14 (leia-o), e nele “o cordeiro” é o principal elemento, o qual apontava para o sacrifício que Jesus Cristo fez a nosso favor (João 1.29).  Um cordeiro deveria ser morto e, assado no fogo; deveriam comê-lo às pressas, e seu sangue deveria ser colocado nos umbrais das residências. A casa que tivesse a “marca do sangue” seria poupada do juízo iminente do que viria sobre o Egito.
Há páscoa sem coelho, mas, não há verdadeira páscoa, sem o cordeiro.
No texto lido (Ex. 12.1-14) encontramos 07 elementos que demonstram a importância do cordeiro como fundamento de nossa vida espiritual.

1) A CENTRALIDADE DO CORDEIRO (Ex. 12.3,4)
3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família. 4 Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro.
Observe que o indivíduo tomaria o cordeiro, e as atenções de sua casa se voltariam para ele (o cordeiro). Um cordeiro, naturalmente, era grande para uma família; assim, outra família era introduzida no contexto do cordeiro; esse movimento, a partir do cordeiro,  progressivamente, deveria acontecer em todas as famílias que compunham a sociedade judaica. O cordeiro ficaria NO CENTRO: “Famílias ao redor do cordeiro, sociedade ao redor do cordeiro”.
É muito estranho quando vemos nossa sociedade, em tempos de páscoa, voltando-se para o coelho. Páscoa é tempo de revermos se nossa responsabilidade de implantarmos um movimento contrário; é tempo de nossa casa se voltar para o cordeiro; é tempo de nos esforçarmos para trazermos outras famílias para se voltarem para o cordeiro. Em efésios 1.9,10 o apóstolo Paulo revela o mistério do beneplácito da vontade de Deus; Deus resolveu “convergir, na dispensação da plenitude dos tempos, TODAS AS COISAS, tanto as do céu, como as da terra, EM CRISTO” (Ef. 1.10).
O CORDEIRO É O CENTRO!! Sua vida tem o cordeiro como o centro, como o núcleo? O cordeiro já é centro de sua família? Sua família, nesta páscoa, convidou outra família para estar ao redor do cordeiro?
Vejamos o 2º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

2) A SUFICIÊNCIA DO CORDEIRO (Ex. 12.4,10)
4 Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro. 10 Nada deixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis.
A celebração da páscoa era espécie de churrasco (solene) para a família. No entanto, 02 verdades devem ser postas em relevo; estas, expressarão juntas, uma única verdade: A SUFICIÊNCIA DO CORDEIRO.
A) A refeição da Páscoa não deveria ser uma refeição solitária, mas, comunitária! Do mesmo modo, Cristo não pode ser apenas uma experiência solitária de nossa espiritualidade, mas deve também ser vivido de forma comunitária! Uma das evidências mais claras da influência maléfica da pós modernidade, em nossos dias, é o entendimento de muitos que “CRENTE DEVE SER CRENTE EM CASA”; vemos preocupados, o surgir de uma geração que PRIVILEGIA E “AMA” A SOLIDÃO; satisfaz-se em “assistir” o culto pela internet... e, quando no culto, nas igrejas, percebe-se cada vez mais, uma adoração individualista: um “levanta a mão” de uma lado; outro chora, outro ajoelha... Já vi lideres de Ministério de Louvor dizerem em “tons piedosos”: “fique à vontade, irmão; se quiser sentar, assente-se; se quiser ajoelhar, ajoelhe-se; se quiser bater palmas, bata...” NÃO, IRMÃOS!! A páscoa nos relembra que os benefícios do cordeiro devem ser usufruídos coletivamente. Mas, poucos sãos os crentes que hoje valorizam a coletividade, a igreja, a família, a comunidade. Nossa adoração é COMUNITÁRIA, é coletiva; somos um CORPO (1 Co. 12.12-26). Observe mais:
B) Por maior que fosse a fome de uma pessoa, ela jamais se alimentaria SOZINHA de um cordeiro; e mais, nem mesmo uma família (por mais numerosa que fosse). Assim, diante da EVIDÊNCIA de que um cordeiro era grande para o indivíduo, e também para a família (coletividade), esta família deveria convidar outra família (comunidade), e assim, sucessivamente, como disse anteriormente, toda sociedade se alimentaria do cordeiro. Comentando este texto SPURGEON disse: “Pode haver falta de pessoas que se alimentem do cordeiro, embora não haja falta de alimento para elas se nutrirem”.
O CORDEIRO É SUFICIENTE PARA SATISFAZER O INDIVÍDUO; SUFICENTE PARA A FAMÍLIA, SUFICIENTE PARA TODO POVO. O versículo 3 diz: “Falai a toda congregação de Israel” – O INDIVÍDUO, A FAMÍLIA E A NAÇÃO.  João Batista, ao ver Jesus, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). O que João estava dizendo é que o cordeiro de Deus, Jesus, é SUFICIENTE, até mesmo, para o mundo todo. Podem faltar pessoas, mas, cordeiro, não. Lembre-se da parábola: “Tudo está preparado, podem chamar gente de todo lado, que cabe...” (Lc. 14.22). João, em sua primeira carta, disse que Jesus se fez “propiciação pelos nossos pecados... e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo. 2.2). ALELUIA!! O CORDEIRO É SUFICIENTE!!
Vejamos o 3º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

3) A PERFEIÇÃO DO CORDEIRO (Ex. 12.5,6,3)
5 O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito; 6 e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. 3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro
O cordeiro não poderia ter defeito (5), tinha que ser um animal saudável (perfeito). Este cordeiro era recolhido no 10º dia (3) do mês de “abib” (entre março/abril), mas, só era imolado no 14º dia (6). Segundo os especialistas havia 04 dias de carência para perceberem alguma possível doença no animal, se este a tivesse. Isto tudo aponta para a perfeição da pessoa e da obra de Cristo a nosso favor.
Veja o que aconteceu no tempo do profeta Malaquias (1.7,8): “Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o SENHOR dos Exércitos”.
O ato de escolher um animal “sem defeito” (5) apontava para a perfeição do caráter e da obra de Cristo, o verdadeiro cordeiro de Deus. O anjo Gabriel anunciou que Maria daria a luz a um “ente santo” (Lc 1.35). O veredito Pilatos acerca de Jesus foi: “Não encontro nesse homem crime algum” (Lc 23.4 cf. 24.14-15, 22). A Carta aos Hebreus diz que Jesus foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).
O simples fato de Jesus ter morrido durante a celebração da Páscoa já seria razão suficiente para percebemos o quanto a perfeição de nosso Salvador e sua obra estão associados com esta festa (Jo 12.1,12; 13.1). A relação perfeita de nosso Senhor com essa celebração judaica tem detalhes tão precisos que surpreende até a mente mais cética. Moisés prescrevia a hora da morte do cordeiro em Deuteronômio 16.6: “sacrificarás a Páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo em que saístes do Egito”. “À tarde” era intervalo entre 15 e 18 horas; isso é reafirmado por um historiador da antiguidade chamado Flávio Josefo: “era costume na época sacrificar o animal por volta das três horas da tarde. Então, veja como o Evangelista Marcos foi preciso (Mc. 15.25,33,34,37): “Era a hora terceira (9 horas da manhã) quando o crucificaram.... 33 Chegada a hora sexta (Meio dia), houve trevas sobre toda a terra até a hora nona. (15 horas)... 34 À hora nona (15 horas), clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? 37...Jesus, dando um grande brado, expirou.
A porção, relatada por Marcos, indica que, PERFEITAMENTE, À HORA QUE O POVO JUDEU DEGOLAVA O CORDEIRO (a partir das 15 horas), JESUS EXPIRAVA, MORRIA NA CRUZ. O Novo testamento trata a obra de Cristo, como cordeiro, tendo como base a perfeição dela. Veja, somente, 1ª Pedro 1.18-20:sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito (“Sem Defeito – o mesmo termo de Êxodo 12.5) e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós”. Um sacrifício perfeito; a “obra (sangue) perfeita” procedente de um “cordeiro perfeito”.
Vejamos o 4º fato que demonstra a importância do cordeiro para nossa vida espiritual:

4) A PROTEÇÃO DO CORDEIRO (Ex. 12.7,12,13)
7 Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem;
Foi ordenado ao povo fazer cumprir um ritual um tanto inusitado: passar o sangue do cordeiro nos umbrais das portas. Alguém disse certa vez que "mais vale um grama de obediência que uma tonelada de oração". A vida ou a morte, de cada família, estava definida pela presença ou não daquele sangue, o qual, evocaria, 2 reações distintas.
A)     A AUSÊNCIA DO SANGUE DO CORDEIRO EVOCARIA O JUÍZO - 12 Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o SENHOR.
B)        A PRESENÇA DO SANGUE DO CORDEIRO EVOCARIA PROTEÇÃO, OU, A PRESERVAÇÃO - 13 O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.
Um detalhe precisa ser bem definido. A proteção da morte acontecia não por que (necessariamente) este colocou o sangue, mas por que, antes mesmo disso, alguém morreu (o cordeiro) no lugar do morador da casa. Portanto, o sacrifício era vicário; era substitutivo. Aprenda: somos o que somos, não por causa de nossas obras ou méritos, mas única e exclusivamente por causa daquilo que Jesus fez em nosso lugar.
A obediência em “passar o sangue” indicava que um cordeiro havia sido morto, e foi uma representação de uma realidade muito mais profunda. Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, diz que Jesus é o único que nos “livra da ira vindoura” (1Ts 1.10); aqueles que são “cobertos pelo seu sangue” têm seus pecados perdoados (1Jo 1.7; Ap 1.5) e serão apontados como justos no dia do juízo de Deus (Rm 5.9). Apocalipse anuncia que “os que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro venceram, são bem-aventurados e receberam o direito de comer da árvore da vida e entrar na Jerusalém celestial” (Ap 12.11; 22.14).

CONCLUSÃO
Encerro esta primeira parte fazendo a pergunta inicial: Coelho ou cordeiro? Você se convenceu da centralidade, suficiência, perfeição, e proteção do cordeiro? Nossa vida espiritual só faz sentido porque o cordeiro está intimamente envolvido nela.
Falando sobre a páscoa Hernandes Dias Lopes expressou-se muito bem: “O comercio guloso trocou os símbolos da páscoa. Trocou o cordeiro pelo coelho; o sangue pelo chocolate. Amenizou o seu significado, esvaziou o seu conteúdo e adocicou a sua mensagem. A páscoa secularizada é multicolorida, mas vazia de conteúdo. Cheia de glamour, mas desprovida de esperança. Agradável ao paladar, mas, sem nenhuma provisão para a alma. É hora de devolver a páscoa ao verdadeiro dono, Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.

Em breve publicarei a segunda parte desta mensagem. Deus o abençoe!!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

OS 05 ERROS DOS IRMÃOS, BEM INTENCIONADOS, QUE UTILIZAM-SE DE APOCALIPSE 3.20 COMO TEXTO EVANGELÍSTICO

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap. 3.20).

A cada dia que passa convenço-me mais de que as palavras do Reverendo Augustus Nicodemus, ditas numa de suas aulas de mestrado, são verídicas: “um dos problemas mais sérios da igreja de nossos dias diz respeito à má utilização da hermenêutica”.
Hermenêutica é a uma área da teologia que nos dá as ferramentas adequadas para a correta interpretação de um texto. Muitas são as vezes que formulamos idéias, conceitos, e teses, com base em “achismos”, pré-conceitos, ou, na maioria das vezes, em leituras rápidas e superficiais, desconsiderando, principalmente a autoria, gênero, o propósito, e principalmente, o contexto em que as passagens bíblicas são colocadas.
Dentre as passagens bíblicas mais conhecidas (populares) que são interpretadas erroneamente destaco 03 do Antigo Testamento, e 03 do Novo Testamento, sendo que irei me ater um pouco mais, à última passagem:

A) ANTIGO TESTAMENTO:
1) Êxodo 20.5,6: “Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem 6 e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Utiliza-se erradamente este texto para criar a doutrina da “maldição hereditária” como se a ênfase do mesmo fosse aritmética);
2) Josué 1.3: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés” (Adeptos da Confissão Positiva erradamente utilizam-se deste texto para dar ênfase às “conquistas territoriais”);
3) Salmo 23.1: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará”  (Defensores da teologia da prosperidade usam erradamente este texto para dizer que o cristão jamais passará por privações na vida – Tradução interessante é a da NVI: “O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta”).

B) NOVO TESTAMENTO:
1) João 3.16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Erradamente utilizam-se deste texto como se “mundo” significasse “cada pessoa que habita o planeta terra”);
2) Filipenses 4.13: “tudo posso naquele que me fortalece” (Utilizam-se deste texto para decretarem “vitória” em todas as áreas de sua vida);
3) Apocalipse 3.20:Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Utiliza-se deste texto para evangelizar pessoas, conclamando-as a “abrirem seus corações” a Jesus).
Quais são as falhas dos irmãos, bem intencionados, especificamente tratando de Apocalipse 3.20?

PRIMEIRO ERRO: O PÚBLICO
Quem prega evangelisticamente neste texto erra ao desconsidera o público a quem esta carta é dirigida. Laodicéia era uma igreja autossuficiente, sim, mas não era uma comunidade formada de gente pagã, não! Os membros daquela igreja eram cristãos salvos, regenerados. Faça uma comparação do versículo 19: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo”, com Hebreus 12.5-8. O versículo 6 de Hebreus 12, diz: “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”. A correção acontece a quem é filho.

SEGUNDO ERRO: O EXAGERO DO USO DA FIGURA
O versículo 20 diz: “Eis que estou à porta e bato”. Estes irmãos raciocinam: “Se Cristo está à porta, isso significa que ele está do lado de fora”. Há, aqui, claramente, um “extrapolamento”, um exagero para com a figura utilizada. O que Cristo quer dizer aqui é não é, necessariamente, que ele esteja do lado de fora da vida de alguém, mas, que ele insiste “chamando” (por sua Palavra) o pecador ao arrependimento, e “batendo” (por meio dos diversos meios de graça). A insistência de Jesus (graça) deve conduzir o pecador arrependido a utilizar sua “reponsabilidade” e “abrir a porta”: “se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta” (20). O “abrir da porta” evidenciará o genuíno arrependimento, mediante a insistência graciosa do Senhor Jesus: “Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (19).

TERCEIRO ERRO: A POTENCIALIDADE DADA AO PECADOR
Este é um erro claramente bíblico/teológico. Tais irmãos lêem: “Se alguém... abrir a porta...”, com isso, consideram que o pecador não regenerado tem potencial, capacidade para “abrir seu coração”. Precisaríamos aqui explorar o assunto “coração” na bíblia; não faremos por questão de objetividade. Vale a pena dizer que o coração é “o núcleo do ser”, ou “o homem descoberto”, como ele de fato é, na presença de Deus (Pv. 4.23, Jr. 17.10). Este, encontra-se corrompido completamente (Jr. 17.9, Mt. 15.19).
O erro desses irmãos, nesse terceiro ponto, é triplo. Primeiro; antes do texto dizer sobre “abrir a porta”, diz: “se alguém ouvir a minha voz”. A bíblia deixa claro que somente os salvos ouvem a voz do Senhor; estes são os regenerados, chamados, por João de “suas (de Cristo) ovelhas”: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (João 10.26,27). Os não regenerados são tratados nas escrituras como surdos (Is. 42.7,18, 43.8, At. 7.51). Segundo; em nenhuma parte das escrituras há qualquer sugestão que um pecador não regenerado, morto em delitos e pecados (Ef. 2.1), possua algum potencial, ou capacidade de abrir o seu próprio coração, e receber a vida eterna. Na verdade, a bíblia caminha noutro sentido. Ela demonstra que no pecador não regenerado não apenas não há capacidade, pois, seu coração é “duro como pedra” (Ez. 36.26), como também não há qualquer interesse genuíno deste em dirigir-se, em mover-se em direção a Deus. Jeremias 13.23 diz: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal?”. João 3.19 reitera: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más”. E João 5.39,40: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. 40 Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”.
Há ainda um terceiro erro, uma terceira verdade a ser considerada por aqueles que acreditam que o homem possua capacidade de abrir seu próprio coração. Em nenhuma parte das escrituras vemos alguém “abrindo seu coração”. A bíblia demonstra que a salvação “não vem de nós”, não é resultado do mérito, ou do esforço humano, mas “fruto da graça de Deus” (Ef. 2.8-10). Em Atos 16.14 há um claro modelo de como a salvação se processa; ali, é demonstrado que é Deus quem abre o coração: “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. Também em Atos 11.18 nos é demonstrado que é Deus quem tem a capacidade de conceder arrependimento para salvação, sendo este, portanto, uma dádiva divina: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida”. Spurgeon, o príncipe dos pregadores, disse: “Só o Senhor pode colocar a chave no buraco da fechadura e abrir a porta, e entrar por Si mesmo. Ele é o dono do coração da mesma forma que é o seu criador”. João deixou claro que uma das funções do Consolador, o Espírito Santo, seria convencero mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo. 16.8). A bíblia dixa claro que “é Deus quem opera em nós até o querer e o realizar” (Fp. 2.13).
Apesar dessas 03 verdades ditas anteriormente, que o pecador não tem capacidade, nem interesse, ou condição, bem como, ser Deus quem concede salvação, arrependimento e convencimento, deve-se considerar o nosso propósito original; ou seja, Cristo é insistente; ele “bate”, e a responsabilidade nossa é “ouvir a voz” do Senhor, ou seja, atender à sua voz.

QUARTO ERRO: CONSIDERAR CONVERSÃO COMO SENDO REGENERAÇÃO
Neste ponto fica fácil compreender o erro desses queridos, e bem intencionados, irmãos. Apesar da boa intenção incorrem em erro. Podemos demonstrar o erro, inicialmente, de forma dedutiva.
O chamado de Jesus à igreja de Laodicéia não foi um chamado à salvação, mas, um chamado à conversão, um apelo à restauração, e à santificação. Se entendermos que eles eram cristãos autossuficientes (3.15-19), mas, regenerados, fica fácil entender. Observe que autor não diz: “Sê, pois, zeloso, e aceite Jesus (auto regenere-se!)”, mas: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”. A Teologia Sistemática tem (corretamente) ensinado que a conversão é composta de duas partes: fé (confiança na obra de Cristo) e arrependimento (revisão de valores). É isso que deveria acontecer com os crentes daquela igreja; eles já eram salvos.
Não se deve pregar salvação a quem, de fato, já foi regenerado. A regeneração acontece apenas uma vez na vida, quando Deus soberanamente implanta em nós o “princípio de nova vida espiritual” (Jo. 3.3, Ef. 2.1). Já a conversão acontece continuamente, regularmente. O povo de Deus é constantemente chamado à conversão, ao arrependimento, a mudança de vida (2 Cr. 7.14).
Deve-se observar ainda que Jesus utiliza a figura da ceia. O convite para participarmos de uma ceia com Jesus: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (19). Um judeu só convidava para desfrutar de uma ceia consigo alguém que lhe fosse íntimo. Um desconhecido (o caso, um não regenerado) de maneira alguma poderia entrar no recôndito do seu lar, desfrutar de comunhão com ele, e usufruir uma refeição amigável. É assim também que acontece na igreja do Senhor quando participamos da Santa Ceia; ela é restrita àqueles que são o povo do Senhor, e usufruem da perfeita comunhão com ele.
Portanto, é infantilidade considerar tal texto pela ótica do evangelismo pessoal. Quando se prega salvação neste texto considera-se os membros da igreja de Laodicéia como “não-crentes”, como não regenerados. A mensagem de Cristo à Igreja de Laodicéia é uma exortação aos filhos amados que esfriaram na fé. É uma incoerência utilizar esse texto para chamarmos pecadores à fé, pois, os pecadores que não foram salvos, justificados, adotados na família de Deus, não são ainda filhos de Deus (Jo. 1.12, Ef. 1.10).
O chamado de Jesus era à restauração da comunhão com ele; comunhão essa perdida por causa do pecado da autossuficiência de Laodicéia, e neste sentido, a imagem da ceia perfeitamente se enquadra.

QUINTO ERRO: CONSIDERAR A SENTENÇA/JUÍZO “VOMITAR” COMO PERDA DE SALVAÇÃO
Àquela igreja (Laodicéia), como a todas as outras do Apocalipse (com exceção de Filadélfia) há uma ameaça em forma de juízo. Grande parte dos irmãos, que pregam evangelisticamente neste texto, consideram essa ameaça como perda de salvação: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (16).
Tais irmãos incorrem em dois erros. Primeiro; se Laodicéia era composta de gente que nunca foi salva, então, os mesmos já haviam sido vomitados pelo Senhor, pois, não se aplicará juízo a quem já está sob o juízo do Senhor. João 3.36 diz: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. Efésios 2.3, diz: “entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais”.
Mas há um segundo erro. Há aqueles que entendem que pode ser que os crentes de Laodicéia fossem regenerados, mas, que por se tornarem soberbos, altivos, arrogantes, orgulhosos, e autossuficientes, perderiam a salvação dada pelo Senhor (seriam vomitados). Quando assim se compreende “cobre-se um santo, e descobre-se outro”. De fato as pessoas dali eram convertidas, eram regeneradas (ponto 01), mas, é a bíblia que diz: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”. (João 10.28). Já em João 10.29, nos é dito: “Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”. Quem recebe a salvação não a perde. Se alguém perdeu, “perdeu” o que nunca teve...
É preciso considerar que a base legal da salvação dos filhos de Deus é a obra de seu Filho (1Pe.1.19), e a ressurreição de Jesus é a confirmação da satisfação de Deus em relação a mesma (1 Pe. 1.3). A obra de Cristo tornou possível o imediato perdão, a remissão de todos os nossos pecados (Ef. 1.7). A linguagem bíblica é que uma série de bênçãos já aconteceu na vida de seus filhos; eles já foram “transportados para  reino do Filho do Seu amor” (Cl. 1.13). A sentença de Jesus à igreja de Laodicéia, ou seja, o “vomitar da boca” não pode ser algo como “perder a salvação”. Não há mais como voltar atrás. No entanto, Laodicéia poderia deixar de existir, enquanto igreja, enquanto denominação; isto seria algo semelhante ao “mover o seu candeeiro” (Ap. 2.5); ela deixaria de ser o referencial de Cristo, a portadora da luz de Cristo a este mundo, seria como a luz que é colocada debaixo do alqueire, ou como o sal que deixa de ser sal; por tornar-se insípido é pisado pelos homens (Mt. 5.13-15).
As 07 igrejas do Apocalipse deveriam se enxergar como as portadoras da luz de Cristo ao mundo (elas eram os candeeiros pelos quais Cristo espargiria sua luz ao mundo). As 07 igrejas deveriam vigiar a conduta, e não deixarem-se enredar pelo mundanismo de seus dias. Às 06 igrejas que são reprendidas, as palavras de juízo são pontuais, duras, e pesadas, porém, em nenhuma delas tais palavras sequer sugestionam o “perder a salvação” (Ap. 2.5,10,16,21-23; 3.3,16).
Por incrível que pareça o juízo foi aplicado. Laodicéia não existe mais, enquanto igreja, naquele lugar. Nos dias de hoje não existem lá outras coisas, senão, ruínas. As portas foram fechadas. Laodicéia foi vomitada!

quinta-feira, 6 de abril de 2017

“SOU O TRIGO DE DEUS, E SEREI TRITURADO PELOS DENTES DAS FERAS”

“Escrevo a todas as igrejas e informo-lhes que morro livremente por Deus. Se, contudo, me impedirdes disso, rogo-vos: não demonstreis por mim benevolência inoportuna! Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou o trigo de Deus e serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão para Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus.
Não quero mais viver segundo os homens. Isso acontecerá se vós quiserdes. Rogo-vos que o queirais para alcançardes também vós a misericórdia. Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditais em mim! Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou. Pedi vós por mim para que consiga. Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me quereis bem; se rejeitado, vós me odiastes”. Inácio de Antioquia (discípulo de João).


Segundo o historiador Eusébio de Cesaréia, Inácio foi levado da Síria para Roma, e martirizado no Coliseu sendo lançado às feras, por como alimento, por causa de seu testemunho de Cristo. Isso aconteceu entre 110 a 117 dC.